se encontrar um par de tênis brancos…

assombrado pelos frutos de uma deleitosa rotina
uma volta de bike pela cidade seria propícia para transpirar insanidade
mas sinto exaustão a cada tragada de cigarro nessa final tarde de segunda
tento virar fumaça, mas abstração ainda não é meu forte
o que resta é abrir a netflix
busco algum filme pesado e melancólico o suficiente sem sucesso
decido tirar um cochilo para procurar o par de tênis brancos
que não havia encontrado em meu sonho anterior
acordo por volta das onze encharcado de amnésia
não encontrei o maldito par de tênis brancos que nunca tive
bisbilhoteio o celular na esperança de entreter-me
ó raça ingrata essa minha, de barriga cheia e descansada
mas inquieta, insatisfeita pela quietude das estrelas
como podem ser tão caladas em meio a tudo isso?
como algumas pipocas, e abro meu armário
a prateleira tem livros lidos pela metade
jack kerouac, henry thoreau, charles bukowski…
infelizmente (ou não), puxo um de poemas do velho buk
suicídio, corvos, embriaguez, jóquei e pernas
fecho-o
lembro-me de que estava atrasado para o trabalho
o relógio inconsciente marcava oito e dez da manhã, e entro as sete
os ponteiros de meu relógio de pulso dão agora uma da madrugada
melhor tentar pegar no sono outra vez
pretendo fazer a barba amanhã
e não quero atrasar.

e…
caso encontre o par de tênis brancos
por favor, não me avise
tenha uma boa sorte com eles.