processo de limpeza

as mesmas músicas continuam a tocar.
as mesmas fugas tão deleitosas aos fins de semana
para copos e doses e taças e garrafas.

por que estão tão cansados? sempre, cansados?
por que se sujeitam a essa monotonia suportável?
por que acreditam tão facilmente nas lindas mentiras midiáticas?
por que suportam tanto sem justificativas plausíveis?
por que fingimos o que não somos?
por que sou tão moralista, ainda?

queria beber do cálice da serenidade
e não me abateria nem mesmo com o medo do esquecimento.
mas… sentiria esses impulsos tão desesperados?
rabiscaria essas folhas tão brancas e vazias?
preencheria esse vazio?

os instintos estiveram reprimidos
por um longo inverno.
perdoe-me tê-la feito mal.
minha revolta é a desmoralização
e com essa escrita hei de conseguir.
estou aqui para aceitar
essa necessidade de evaporação.

ouço belas músicas abstratas
e elas dão-me esperança
de seguir suportando e apreciando
o suporte que está virando apreço.

um processo de limpeza
é o que isto representa.
aceitação de todo esse material.
aceitação de todas essas folhas preenchidas.
aceitação de tudo que sai.
e ainda assim, sou tão repetitivo
tão rotineiro em minha bagunça
bem organizada.

captei os padrões de fuga.
e hei de domá-los.
hei de domá-los
aqui.