olhos de coruja

e consigo uma nova caneta azul de funil cheio para exprimir palavras.
― a amazônia deveria ser governada pelas comunidades locais.
e os homens deveriam ser mais compassivos uns com os outros,
e menos ambiciosos.
e todas as mulheres mereciam ser elizabeth’s.
e os cães não deviam nunca ser deserdados.
e os gatos bem que podiam ser pouco menos argutos.
e os moradores de rua deveriam pagar contas de luz e água e gás.
e eu deveria fumar menos, e talvez, até largar de vez o cigarro.
mas eu não largo. não quero largar, por ora.

e seus olhos de coruja que tudo observam,
e suas orelhas miúdas que tudo escutam,
e suas bochechas redondas e rosadas feitas para aplacar qualquer tolo homem,
e sua pele macia e clara pela falta de vitamina d,
e suas mãos e pés com unhas perfeitas quando não pintadas,
e seu louro cabelo tingido para prevenir os trinta,
e suas coxas curvas e panturrilhas grossas,
e seu autocontrole ritmado pelo contraste com a superfície sensorial.
e você não mudou tanto assim.

e pela primeira vez em vinte e oito,
sonho ver odin implorar perdão a cristo para adentrar o céu com seus nórdicos embriagados.
sonho ver hades comer um pizza vegetariana de brócolis no inferno.
sonho ver buda perder o controle com poseidon,
quando este, tudo que quer é descansar nas areias da praia.
nicotina, álcool, remédio para oscilação emocional.
e podem ser muitas outras coisas, das quais desconheço, e talvez nem venha a conhecer.
e não houve canções de amor e discórdia no olimpo,
e o amarelo e o azul não se misturaram para formar o verde
na noite prorrogada de onze longos anos atrás.

e você talvez pense que eu seja o mesmo d’antes,
e que ingenuidade e carência e controle ainda marcam gerações,
mas aprendi a gostar de desordens e confusões,
e prefiro as pinturas abstratas,
e ainda continuo a rezar
para quem não conheço.

talvez queira entender meus poemas,
apesar d’eles não serem escritos para interpretações.
mas… se tentar, tudo bem. está tudo bem, eu não ligo.
foi um prazer revê-la. felizes vinte e nove.

divinus é o nome?
estarei precavido: levarei blusa.
pode ser que faça frio ao enfim adentrarmos o monte divino
para regozijarmos aqueles velhos e entristecidos e entediados e rabugentos deuses e musas que perpetuam por lá.
vou assistir o filme daquele professor agora.