meu psiquiatra diz que devo parar de beber para a medicação ter melhor efeito. e que cigarros são perigosos. e que também devo deixá-los de lado. propus aumentar então a dose. ele não acha uma boa ideia. ele usa uma grossa aliança em seu anelar esquerdo. ele veste sempre uma camisa social listrada quando vou vê-lo. limpa, bem passada. abotoada. fala pausadamente, e anda um pouco curvado, mas tudo bem. ele ainda é novo, e é um bom rapaz. tem tudo sob controle. tudo, muito bem, controlado. … minha ex me liga quinta-feira por volta da meia-noite. diz ter saudades, e que me ama. digo que sinto o mesmo. relações são complicadas; as intensas, ao menos. as que valem a pena. ela tem medo. eu tenho medo também. … no habitual bar de sexta-feira, ofereço um cigarro ao pai de dean moriarty. ele me fala sobre hare krishna, sobre deus, amor e suas filhas. e sobre suas andanças pelo país. de um minuto para outro, ele some. meu tio e irmão também o viram, não viram? … sentado em um banco de pintura branca desgastada, espero os minutos de sábado correrem. derreterem minha mente bagunçada. aguardo por l., para juntos subirmos de moto até campos. pra quê, eu não sei. por quê, eu não sei. o saldo está ficando negativo ultimamente. reflito: “mas que merda, o que estou esperando? afinal, o que estou esperando?” não encontro respostas. sinto que elas sequer existiram. e, se existem, estão ainda é muito bem escondidas de mim. já em campos, paramos no lugar mais movimentado: esquina do djalma. bebemos heineken, e procuramos por belas garotas desacompanhadas. todas estão acompanhadas… com caras tão feios, tão feios quanto nós. a única sentada sozinha entretém-se com seu namorado virtual; a versão masculina de samantha de theodore. talvez ela não esteja sozinha, como pensamos. a banda do bar toca rock in roll. dividimos cigarros com dois tiozões ricos, que alertam-nos o perigo de motocicletas pelos acidentes que já sofreram. um deles largou a moto para comprar um jet ski. no momento, não tenho grana para um jet ski, parceiro. descemos embriagados para pinda. l. volta para cachoeira paulista; conseguiu um match por lá. entro no badoo, ainda são dez horas. uma gata doida topa sair comigo. pego-a de moto, e bebemos no biffurks. de vestido, observo suas pernas brancas e lisas. que belas pernas ela tem. tragamos mais copos e cigarros, e beijamo-nos sem parar. saímos a uma em direção ao motel mais próximo. vou ficando cada vez mais duro, em todos os sentidos. transamos sem compromisso. o quarto faz-me sentir um monarca francês do século XVIII. a pintura de uma senhora adornada e rechonchuda fica olhando-me enquanto transamos. adorei a pintura, queria roubá-la e pendurá-la em meu quarto. sinto já ter visto essa senhora em algum lugar. depois de lanches, e coca-colas, e mais cigarros, mais beijos, e amassos, deixo-a em sua casa. volto para minha. ainda não deu cinco horas. … acordo hoje com um hálito horrível na boca. devia cultivar o hábito de escovar os dentes ao dormir. nunca consigo. vejo que recebi mensagens de n. no celular. ela canta. e tem três meninos. eu escrevo. e pinto. e tenho um cão. daria uma bela cena, não daria? espreguiço-me, levanto, cago, e acendo um cigarro. “afinal, o que estou esperando?” sim… talvez meu psiquiatra tenha razão. mas por misericórdia, por santa misericórdia, diga-me, por favor, como é que você consegue viver, e ser feliz, sem nenhuma bebida? não seria você muito mais louco do que eu?