o som das teclas em uma máquina de escrever o suor impregnado nas axilas e partes íntimas o vislumbre de contornos de um vale ao horizonte o frescor do crepúsculo ao entardecer o bocejo preguiçoso de um cão pode haver algo mais real que isso? os sentimentos à flor da pele e não falo dos impulsos de terror e egoísmo e carência de nossa matéria falo dos sentimentos lídimos sentidos além dessa experiência sensorial no caminhar de um romeiro em sua meditação no vento que toca o rosto de um piloto em sua motocicleta em olhos que produzem lágrimas espontâneas em bocas cândidas que sorriem e resplandecem vida o divino, o indivisível, o um, a unidade santa não, não há nada mais real que isso. nessa realidade de loucura controlada de dentes sedentos por sociabilidade de novelas superficiais e comédias vazias de e-mails marketing e redes sociais e expectativas alheias nessa realidade reta, concreta, linear, previsível e premeditada imposta pelo chão, composta de mesas, cadeiras, sofás, computadores, celulares, filmes, séries, cervejas, cigarros, drogas e passatempos variados nessa realidade de pessoas assustadas pelo tédio nessa realidade intolerante sustentada pelo medo de não terem a certeza de nada de não termos a certeza de nada ainda sinto você eu ainda sinto você. gratidão, honey mais que o sempre eu ainda sinto você.