eterna gratidão

o som das teclas em uma máquina de escrever
o suor impregnado nas axilas e partes íntimas
o vislumbre de contornos de um vale ao horizonte
o frescor do crepúsculo ao entardecer
o bocejo preguiçoso de um cão
pode haver algo mais real que
isso?

os sentimentos à flor da pele
e não falo dos impulsos de terror
e egoísmo e carência de nossa matéria
falo dos sentimentos lídimos
sentidos além dessa experiência sensorial
no caminhar de um romeiro em sua meditação
no vento que toca o rosto de um piloto em sua motocicleta
em olhos que produzem lágrimas espontâneas
em bocas cândidas que sorriem e resplandecem vida
o divino, o indivisível, o um, a unidade santa
não, não há nada mais real que
isso.

nessa realidade de loucura controlada
de dentes sedentos por sociabilidade
de novelas superficiais e comédias vazias
de e-mails marketing e redes sociais e expectativas alheias
nessa realidade reta, concreta, linear, previsível e premeditada
imposta pelo chão, composta de mesas, cadeiras, sofás, computadores, celulares, filmes, séries, cervejas, cigarros, drogas e passatempos variados
nessa realidade de pessoas assustadas pelo tédio
nessa realidade intolerante sustentada pelo medo
de não terem a certeza de nada
de não termos a certeza de nada
ainda sinto você
eu ainda sinto
você.

gratidão, honey
mais que o sempre
eu ainda sinto
você.