caneta bic

fé.
prosseguir,
avançar e torcer para que
a tinta dessa caneta
bic
consiga acompanhar
os pensamentos,
as palavras,
os sentimentos,
as lembranças,
as linhas imaginárias
de tudo que sai
e vira rima.
e não vira
nada.

medo tenho é da minha
conta bancária.
com psicanalista,
psiquiatra,
remédios,
cigarros,
bebidas,
e aulas de pintura
para relaxar.
medo mesmo tenho é de perder
você.

medo tenho é o
do descontrole.
da entrega.
do abismo.
do vazio.
da melancolia.
da solidão.
mas sou contraditório, honey.
eu adoro uma bagunça.
eu adoro essa bagunça.

sou seu ódio,
e seu amor.
paixão inutilmente enraizada
como a brisa que adentra a janela aberta de seu quarto.
mas você sempre preferiu a janela fechada,
e amores são mais belos e verdadeiros floridos e passageiros
que enraizados.
sou palavras,
e sou nada.
vazio composto de tragos de esperança,
desespero.
solidão.
e paz. muita
paz.

respiro e vejo o horizonte
pelas paredes amareladas desse quarto.
em quantos quartos já estive?
em quantos quartos já estivemos?
pernilongos zumbem ao redor.
o ventilador braveja pragas
contra eles.
contra mim.
contra todos nós.

cubro-me com a ternura dessa
noite fresca.
mas eu adoro terremotos.
acho lindo de ver erupções vulcânicas.
e toparia estar de frente para um tsunami
somente para apreciá-lo
mesmo que por poucos segundos.
pularia de bungee jump
e de paraquedas.
por nada.
por você.
e ainda não iniciei
meu novo romance.

procrastinação pediu licença.
visita virou inquilina.
moradora adquiriu o hábito.
o hábito incitou costume.
e o costume cultivou cultura.
e eu continuo escrevendo,
graças a deus, continuo escrevendo.
a mesma caneta
bic
de funil vazia;
soltando suas derradeiras baforadas
de luz,
de loucura,
e de trevas.

logo terei de conseguir outra.