água de coco

I.

um lindo sonho chamado k.
mandei-lhe mensagens sexta de manhã
mandei-lhe promessas sexta de tarde
passara, mas como fora belo esse sonho
o mais intenso em cem anos dourados

II.

tomaria apenas uma essa noite
fumaria apenas mais um cigarro
― vini, termina essa e vamos sair, diz meu tio
não estava afim, mas traguei outra lata
fumei mais um cigarro, e fiquei, muito
― ah, querida rússia…, clamei aos céus
as estrelas nunca retornaram minhas preces

III.

no bar, tesão direcionado para uma mocinha
cabelos curtos, ruivos, magra, pele pálida, cândida
por que escuta tanto o barbudinho de camisa colorida?
o rapaz é viciado em games, x-tudos e coca-colas
por favor, aceite minha complexidade, aceite, e casaremos
em uma primavera, casaria com teus olhos redondos
que avisaram a amiga no banheiro de minhas olhadelas
copos de cerveja, doses de cachaça, porção de mandioca frita com queijo
― vou pra casa, tio, avisei

IV.

deito na cama, pego o celular, desaconselhável, eu sei
v. ainda não respondeu meu convite para sairmos
mando mensagens para a.
― acordada? quer dormir comigo hoje?
no bordel da cidade, tem s.
― disponível? meia hora por cinquenta?
respondo v., de taubaté
― podemos ir ao shopping amanhã, então
leio as mensagens ainda não respondidas da j. do tinder
― sou pedagoga, e você?
revejo as mensagens trocadas com m.
uma linda trans ruiva melancólica de guará
essa, essa foi a que mais interessou-me
uma pena a distância ampliada da embriaguez

V.

buzino a porta, s. abre, sorridente
guardo a moto na garagem, beijo-a
apalpo seu bumbum, encosto meu pau nela
― nossa, animadinho hoje, ein
quando começamos, sinto um desejo imensurável
― s., quero comer seu cu
― aí é cem pela hora e tem de ir devagarinho, amor
primeiro de conchinha, depois de quatro
profundas contrações, ela geme, geme, geme
suada, geme, geme, geme…
eu gozo, gozo, gozo, gozo…

VI.

o inconsciente traz-me pesadelos na madrugada
uma casa possuída por demônios
eles acendiam as luzes pelos interruptores
eu as apagava
eles abriam todas as portas
eu corria para fechá-las
sucessivas vezes sucessivas
― o que querem me revelar, seus malditos?
rezei um pai-nosso naquele quarto vazio
mas permaneceram mesmo assim

avisei p. para me esperar no carro
pois coloquei meu pequeno huck, antes de fazer algo
tinha de fazer algo, mas ao voltar, ele partiu
― não! não! deixem meu cão comigo! o huck, não!
chorava, corria as ruas procurando pelo carro branco
vejo-o partindo, ao longe, e corro
corro, corro para alcançá-lo
― o huck é meu! por favor, deixem ele comigo!
não lembro-me se consegui
trazê-lo de volta

VII.

com cento e cinquenta reais a menos na conta bancária
abro olhos remelentos de devaneios translúcidos nesse sábado
eu quero conhecer a rússia, eu quero, muito
chega, tenho de evitar a primeira lata
vou comprar uma garrafa de água de coco
preciso de hidratação, agora
depois falarei com m.,
por ela, faria o sacrifício de ir até guará
contaria a ela meus planos de são petesburgo